Manter a segurança do paciente é a essência do cuidado em saúde. Entre protocolos, treinamentos e tecnologias, um fator aparentemente “simples” — os materiais descartáveis — exerce impacto decisivo na prevenção de eventos adversos. Agulhas que entopem, sondas que se rompem ou luvas que rasgam parecem incidentes banais, mas cada microfalha pode desencadear infecções, reoperações e custos humanos e financeiros.

A seguir, mostramos por que a escolha criteriosa de descartáveis é estratégica, como avaliar fornecedores e quais boas práticas ajudam a transformar itens de uso único em uma barreira real de segurança.


1. Descartáveis como barreira primária de segurança

Item descartávelEvento adverso mais comum quando há falha de qualidadeImpacto clínico
LuvasMicroperfurações → exposição a sangue/fluídosRisco aumentado de infecção ocupacional e cruzada
Agulhas e cateteresReutilização não planejada; entupimentoInfecções de corrente sanguínea; atrasos terapêuticos
SeringasVazamento; perda de doseErro de dose; subtratamento
Tubos de coletaHemólise por vedação inadequadaResultados laboratoriais falsos; diagnósticos incorretos
Materiais de curativoAdesivo de baixa aderência; fibras soltasInfecção do sítio cirúrgico; atraso cicatricial

2. Evidências que ligam qualidade à segurança


3. Critérios para selecionar fornecedores

  1. Compliance regulatório
    • Certificações ANVISA (ou FDA/CE para importados).
    • ISO 13485 (sistema de gestão de dispositivos médicos).
  2. Rastreabilidade
    • Lote visível na unidade individual, não só na caixa.
    • QR code para histórico de produção e recalls.
  3. Matéria‑prima e design
    • Grau médico comprovado; aditivos biocompatíveis.
    • Ensaios de resistência a pressão, tração ou perfuração alinhados às normas ABNT/NBR.
  4. Teste de lote por amostragem
    • AQL ≤ 1,0 para defeitos críticos (ex.: estéreis comprometedores).
  5. Avaliação pós‑mercado
    • Taxa de reclamação < 0,5 % e resolução ≤ 48 h.

4. Boas práticas internas que potencializam o uso seguro

EtapaRisco se negligenciadaAção recomendada
RecebimentoMisturar lotes, armazenar fora do prazoConferir NF, validade e condição de embalagem
ArmazenagemUmidade/temperatura fora do padrãoUsar áreas secas (15–25 °C) e FIFO (First In, First Out)
TreinamentoUso incorreto, contaminaçãoCapacitações semestrais e simulações práticas
Monitoramento de incidentesSubnotificaçãoSistema de Notificação de Evento Adverso (interno + ANVISA NOTIVISA)
Auditoria de fornecedoresDesvio de specsVisitas anuais e checklist de qualidade

5. Retorno financeiro da qualidade


6. Checklist rápido para seu hospital

☑️ Fornecedor possui ISO 13485 e ANVISA ativo?
☑️ Teste de amostra de cada lote antes do uso clínico?
☑️ Rastreabilidade até o nível de paciente no prontuário?
☑️ Plano de contingência em caso de recall?
☑️ Cultura de notificação sem punição para falhas de material?


Conclusão

Em segurança do paciente, detalhes salvam vidas. Investir em descartáveis de alta qualidade, aliados a processos robustos de seleção, armazenamento e monitoramento, é uma das formas mais diretas — e muitas vezes subestimadas — de cortar a linha de causalidade que leva a eventos adversos. Quando a equipe confia na integridade de luvas, cateteres e curativos, ela libera energia para o que importa: cuidar.

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